O islamicamente correcto aí está e o medo é o seu pastor. Depois do assassínio de Theo Van Gogh, depois dos "cartoons", depois do Papa, chegou a vez de Mozart. O Islão não dá, pelos vistos, "imprimatur" à encenação de Hans Neuenfels do "Idomeneo", e a Ópera de Berlim, "com medo de represálias", decidiu proibi-la. Bastou uma chamada anónima e Kirsten Harms, a directora, aterrorizada, despiu o "tailleur", pôs a "burka" e despediu Mozart com justa causa. Entretanto, Ali Kizilkaya, presidente do Conselho do Islão, saudando a sensata e agachada decisão, "sugeriu" que, se a Ópera de Berlim quisesse levar à cena o espectáculo, deveria fazer "outra encenação", retirando a parte em que Idomeneo, rei de Creta, se insurge contra os deuses e exibe as cabeças de Buda, Poseidon, Jesus e Maomé. A Mozart seguir-se-ão Shakespeare, Dante, Milton, Cervantes, Dostoievsky, Proust, a "Odisseia", o "Paraíso Perdido", o "Fausto", os frescos da Capela Sistina, a "Pietá", até, sabe-se lá!, o galo de Barcelos! E, quando "muftis" e "ayathollas" entenderem, chegará a vez da Bíblia. Ate lá resta-nos ir cantarolando alegremente com O'Neil "O medo vai ter tudo/ quase tudo/ e cada um por seu caminho/ havemos todos de chegar/ quase todos/ a ratos// Sim/ a ratos".»
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Mais palavras para quê, não é?