Neste sentido, e ao invés de contestar ponto por ponto a sua proposta de alteração ao Estatuto da Carreira Docente, os docentes deste país ficam-se pelas suas consequências, o tal efeito prático que a Sra. Ministra prefere dissimular num jogo falacioso e perigoso, atirando-nos, pais e professores, uns contra os outros.
Embora tenha surgido como o maior engodo - o de chamar os pais à escola - da história da Educação deste país, na verdade, a avaliação dos Docentes pelos Pais e Encarregados de Educação, representa apenas uma ponta da ponta de um iceberg, uma linha de texto num documento de 54 páginas. Interessa apenas a quem se limita a promover manobras de diversão facilmente identificáveis, parecendo ignorar que nenhum professor sério irá¡ temer se for avaliado de forma séria. É vergonhoso, até para nós que somos portugueses, verificar o calculismo e a facilidade com que a Sra. Ministra aborda a questão complexa, como é a de avaliar os desempenhos dos professores, sem o mínimo de profundidade, preferindo, sem olhar a meios, o populismo fácil e barroco.
Recorrendo a meras hipóteses, se o novo estatuto fosse, numa eventualidade pouco inteligente, aprovado, o docente teria um número fechado de vagas para Muito Bons e Excelentes. Assim, perguntamos nós: e se, num acaso, os professores de uma escola excederem o número premeditado de Excelentes? Escolher-se-iam os melhores dos melhores e passar-se-iam os outros para Muito Bom e os que tinham a dita nota para o Bom? Ou, numa outra eventualidade, rasurar-se-iam as notas, de forma a não se levantarem polémicas no seio de uma escola que se quer unida e sempre controlada?
Talvez se vislumbre uma resposta se se conhecerem melhor os dezasseis pontos em que o hipotético docente será avaliado, previsto no artigo 46º do hipotético novo estatuto:
- o professor será avaliado pelos resultados escolares dos alunos.
- o professor será avaliado pelas taxas de abandono escolar?
- apreciação do trabalho colaborativo do docente?
- apreciação realizada pelos pais e encarregados de educação.
- avaliação através da observação de aulas?
Os docentes passariam a ser avaliados em dezasseis pontos ou itens de classificação como lhe chama a Sra. Ministra. Destes, quinze são perfeitamente subjectivos, e um deles, o que respeita à assiduidade, o único preciso porque se trata de um número, a Sra. Ministra trata-o com a ligeireza que parece ser o seu maior dom. A Sra. Ministra nã se nega a coarctar aos docentes qualquer esperança, ainda que infeliz, de poderem assegurar o seu desempenho se caírem doentes numa cama. O professor passa, assim, a ser obrigado a cumprir 97% do seu serviço lectivo, se quiser progredir na carreira. À priori, esta medida parece ser finalmente a resposta aos pedidos dos pais e encarregados deeducação dos nossos alunos. Será assim tão óbvia e tão simples esta leitura?
Três por cento de faltas como máximo, representa cinco dias de faltas por ano? Explique-nos, por favor, a Sra. Ministra como justifica o facto de não poder estar doente. Fazemos notar que não falamos apenas de nós próprios, aqui também cabe a assistência à família. Repare a Sra. Ministra que os professores lidam com crianças, cerca de vinte e cinco por cada uma das cinco turma (em média, claro está), e que estas mesmas crianças adoecem e se constipam e nos constipam. E nós sabemos que às vezes mais vale ficar um dia em casa e recuperar a saúde, do que prestar um mau serviço público.
Os docentes têm um grande respeito pela sua profissão. Nenhum professor sério falta para ficar a dormir. Teremos que "contagiar" toda uma escola necessariamente, em nome da graduação profissional, uma vez que só serão devidamente justificadas as doenças em regime ambulatório.Por outro lado, repare Sra. Ministra, pois talvez ainda não o tenha feito, que a grande maioria dos docentes está deslocada da sua casa, longe dos seus familiares. Esta enorme massa humana que se desloca pelo país, em milhares de quilómetros mensais, aos princípios e fins-de-semana, em veículo próprio, e que entrega dinheiro ao estado nos impostos de combustíveis, está muito sujeita a ter contratempos na estrada ou com a mecânica do seu automóvel, e que, a partir de agora, estes mesmos cidadãos manterão esta distância durante três e depois quatro anos!
No que diz respeito às mães ou futuras mães, não compreendemos como pode a Sra. Ministra querer avançar com um estatuto que as espartilhará - a maternidade é um direito protegido pela Constituição da República Portuguesa. É-nos dito que, no decorrer desse ano, a docente não será avaliada, pelo que a mãe terá nesse ano a mesma classificação que lhe for atribuída no seguinte, ou seja, bastar-lhe-á faltar seis dias para que não progrida na carreira dois anos. Saberá a Sra. Ministra o complexo que é cuidar de uma criança durante os primeiros meses e anos de vida? Numa primeira fase, a do período do parto, o novo estatuto salvaguarda as mães para depois as deixar desamparadas numa segunda fase, como se a maternidade se esgotasse no acto de "dar à luz".
Contempla alguns destes dados na sua proposta, Sra. Ministra, ou prefere tratá-los com a distância da sua demagogia? Como quer a Sra. Ministra estabilidade docente, aquela que tanto aclama, convencendo apenas quem ignora a realidade do que é ser educador, se qualquer uma das acções que toma vai no sentido de criar instabilidade e insatisfação? Como quer a Sra. Ministra docentes produtivos e colaborativos se instiga ao fascismo redutor, como se lidasse com gente disposta a rebaixar-se aos seus pés sem que lhe fosse levantado um par de olhos? Como quer a Sra. Ministra um alto nível de rendimento escolar e uma enorme qualidade para a Educação quando atira medidas laças para cima de uma mesa, onde se discute o futuro?
Este é um assunto sério, Sra. Ministra, nenhum professor está aqui para brincar! À Sra. Ministra interessa ter os pais do seu lado, independentemente dos meios, o que lhe interessa são os fins economicistas, cada vez mais sublinhados por cada medida que assina.
Pretende convencer os professores deste país que um tecto ao fim de doze anos de carreira é um objectivo para quem tem que ser avaliado e classificado todos os anos? As demagogias criadas para iludir a opinião pública são os instrumentos de trabalho utilizados pelo estado, mas do tempo da outra senhora, quando a Sra. Ministra ainda tinha a esperança de viver numa democracia - se é que teve...
Parece-nos que todas estas medidas foram lançadas ao ar para justificar o trabalho de alguns caciques que há muito não leccionam e que pululam de gabinete em gabinete na esperança, certamente vá, de lhe apresentar algum trabalho, uma vez que, somente quando já não tiver professores no seu ministério, vossa Senhoria ficará plenamente satisfeita.
Junho de 2006
Um grupo de Professores desrespeitados
1 comentário:
Big John...
Na república das bananas, tudo é possivel e pouco ou nada se faz pelas principais estruturas deste país(Saúde e educação)...
Num país onde as cunhas passaram a ser um acto normal na sociedade e a nossa cultura tende em identificar-se como grandes consumidores de cunhas; quero com isto dizer; como será a tendência pecaminosa na vida dos nossos filhos???
-Mete uma cunha e caminha pra frente porque tu consegues...Milagre!!!
Será medonho o seu futuro e só o poderoso(mafioso, corrupto) conseguirá caminhar...
Se me perguntassem porque que é que eu tenho uma má imagem do meu país?!?
-Eu responderia; Peçámos ao governo espanhol que nos governe por favor!!!
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